O jornalismo e a opinião

Bruna Rezende
4 min readApr 2, 2020

Foto por freestockcenter — Freepik
Foto por freestockcenter — Freepik

Deixa eu contar um negócio: jornalismo 100% neutro não existe. Essa ideia veio das antigas escolas de comunicação e que no contexto de hoje, não se aplica mais. Aquele jornalismo engessado e frio dos anos 90 e 2000 morreu. Ainda bem! Hoje o jornalismo é mais humano, mais próximo das pessoas, fora de um pedestal.

Ex: quadros de prestação de serviços em telejornais, nos quais os jornalistas cobram soluções para problemas da população das autoridades. Os jornalistas vão lá, mostram os problemas, e é da nossa natureza ficar do lado da população.

Segundo o Artigo 6º do Código de Ética dos Jornalistas do Brasil, entre outras coisas, é nosso dever:

- opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (estamos diretamente ligados à DUDH, e é nossa OBRIGAÇÃO defender sua aplicação, denunciando irregularidades)

- divulgar os fatos e as informações de interesse público (o que um político faz em sua vida pública é de interesse da população)

- combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com o objetivo de controlar a informação;

- defender os princípios constitucionais e legais, base do estado democrático de direito;

- lutar pela liberdade de pensamento e de expressão (mas isso não significa que qualquer expressão é aceita; se algo ferir a liberdade de imprensa e os direitos humanos, deve ser repudiado e denunciado. Quando há ameaças a jornalistas, a liberdade de imprensa é ferida. Ponto. Não tem discussão sobre isso.)

Na faculdade, aprendemos que a informação deve ser:

- Exaustivamente apurada, averiguada e confirmada. Devemos confirmar a autenticidade dos fatos e divulgar esses fatos devidamente apurados. Não é qualquer informação que deve ser divulgada pela imprensa. Ex: correntes de WhatsApp, sem apuração, não devem ser publicadas.

- Em caso de erro, deve ser corrigido e informado ao público.

- Devemos dar voz a todos. Quando necessário, o direito de resposta deve ser concedido.

Sobre opinião, isso é o que está no Código de Ética dos Jornalistas do Brasil:

Art. 10 — A opinião manifestada em meios de informação deve ser exercida com responsabilidade.

Ou seja, pode dar opinião? Pode. Desde que seja com responsabilidade.

Cada veículo de comunicação tem seus princípios editoriais. A Band tem princípios W, a Globo tem princípios editoriais X, o SBT tem princípios Y, a Record Z e assim sucessivamente. Normalmente as opiniões de cada veículo são dadas em um tipo de publicação chamada Editorial. Se em algum momento a emissora se manifestou em editorial sobre determinado assunto e o material produzido pela emissora está refletindo isso, desde que não fira o Código de Ética e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, não há problema.

Quem fazia isso com maestria é o saudoso Ricardo Boechat, meu ídolo máximo no jornalismo. Ele sabia informar e sabia opinar com parcimônia e responsabilidade. Jornal factual não deve ser 100% opinativo. Mas também não pode ser 100% distante. Deve-se haver equilíbrio.

Por fatores tempo, temas, princípios editoriais e outros, as matérias que fazemos nem sempre vão ao ar do jeito que planejamos. Temos uma hierarquia. Mas isso eu já falei antes, é só pra relembrar mesmo.

“Abolir a opinião do jornalismo” — não, não e não! Quem gosta de cortar opinião de qualquer um são ditadores. Adivinhe em cima de quem os ditadores mais vão? Dos jornalistas e professores, que são responsáveis justamente por desenvolver nas pessoas o conhecimento e o senso crítico. Nossa obrigação é defender a liberdade de expressão desde que não se oponha aos direitos humanos, não só dos outros jornalistas, mas de todos. Por que você acha que a educação é tão ruim no Brasil? Gente que não pensa é bom pra político que quer se perpetuar no poder.

Nós passamos quatro anos na faculdade estudando filosofia, sociologia, arte, economia, política, direito, etc. Não dá pra aprender tudo e temos sempre que estar estudando. Certamente tem algo que eu não lembro ou que eu deixei passar. Acima de tudo: não importa se o jornalista é de veículo X, Y, ou Z. Ele tem o direito de trabalhar sem ser ameaçado. Pra isso, não tem conversa.

Para finalizar, eis o que a Constituição Federal diz sobre liberdade de imprensa:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. (OU SEJA: Não concorda com o posicionamento do veículo? Beleza, mas não pode censurar.)

Também não se pode impedir o acesso à informação, como diz o artigo 5º da mesma Constituição Federal. Ex: Quando alguém impede a presença de um jornalista em uma coletiva simplesmente por não gostar de um veículo, esse alguém está ferindo à Constituição

Por fim, por qual motivo eu fiz esse texto? Para responder à certos fanáticos políticos que não cansam de atacar a imprensa, especialmente os repórteres, que estão trabalhando. Para esses, um recado final:

Ao invés de ficar tentando defender um político cuja OBRIGAÇÃO é SERVIR ao povo da melhor forma possível, vão procurar os seus direitos e deveres. Enquanto acharem que política é um jogo de futebol, e que a briga é entre povo x povo e não povo x políticos, aqui vai continuar sendo um país subdesenvolvido.

Eu tenho muito orgulho da profissão que eu escolhi. E não vai ser ninguém que vai me dizer o contrário!

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Written by Bruna Rezende

Jornalista, escritora, locutora, radialista e uma eterna sonhadora

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